quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Como nossos pais 5/5 - “Brasil tem mais abortos do que nascimentos”


“O número de abortos no Brasil é maior do que o de nascimentos. Os números são da Organização Mundial de Saúde (OMS) e apontam cerca de 3 milhões de interrupções da gravidez anuais no país contra apenas 2,779 milhões de registros de nascimento, em 1986. A estimativa da OMS, apresentada no ano passado na Suíça, põe o Brasil como primeiro do mundo em matéria de aborto". Era o que dizia uma reportagem publicada no “Jornal do Brasil” em 7 de março de 1989. Passado?
Em maio de 2010, o portal G1, com informações do Jornal Hoje, da Rede Globo, publicou o resultado de uma pesquisa que ouviu cerca de 2 mil mulheres alfabetizadas e com 18 a 39 anos. Foi revelado que de cada grupo de 100 brasileiras, 15 já fizeram pelo menos um aborto. A pesquisa também mostra que quase metade das mulheres (48%) disse que usou remédios para induzir o aborto – e 55% tiveram de ser internadas depois. E que a cada cinco brasileiras, entre 35 e 39 anos, uma já fez aborto. Isso sem contar os óbitos maternos causados por complicações após aborto mal realizado em clínicas clandestinas.
Esses dados são de acordo com a primeira pesquisa nacional sobre aborto no Brasil  realizado pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis) e pela Universidade de Brasília (UnB), e traçaram um novo perfil da mulher que interrompe a gravidez. Ao contrário do que se pensava, a maioria não é de jovens solteiras, e sim de mulheres que têm um companheiro. Quase 60% delas também têm filhos. Quanto maior o grau de escolaridade, menor o número de mulheres que fizeram aborto. Entre as regiões, a Nordeste foi onde os pesquisadores registraram maior número de mulheres que declararam já ter feito aborto alguma vez na vida. A região de menor índice foi a Sul. (saiba mais)
Eu  no colo de meu pai Ivo Mattos ( 15/03/1953 - 27/04/2007)
Pois bem, eu mesmo poderia ter sido um feto abortado. Minha mãe biológica era uma gari de rua que tinha uma relação estável com um pedreiro. Minha gestação aconteceu quando ela estava em período de resguardo de um irmão biológico meu. Com receios de perder o marido e o emprego, amarrava o ventre com uma faixa no intuito de esconder a barriga. Tomava remédios e bebidas alcoólicas para abortar sem resultados eficazes. Até que um dia, por não suportar mais a situação e decidir que não haveria condições, nem físicas, nem mentais, muito menos financeiras para criar mais uma criança, resolveu desabafar com uma empresária, propietária de um antigo motel que era situado dentro de um dos bairros mais nobres de Vitória, ES, muito conhecido até o final da década de 2000. Aquela empresária, tinha um sonho de "dar" um filho ao seu marido, mais novo que ela mais de 30 anos. Entretanto, seu organismo já não lhe era mais adequado para uma gravidez e imediatamente, propôs adotar aquela criança. Então, proporcionou auxílio médico e também financeiro àquela mãe e no dia do parto, recebeu este que vos escreve como "filho do coração".
Talvez vocês questionem o motivo que me faz escrever sobre isso tudo. E então, lhes convido a fazerem uma analogia com suas vidas e compararem os fetos com sonhos que brotam em nossos corações. Nesse caso, para ficar mais evidente o que desejo propor como reflexão, convido pensar em "sonhos" como aquele desejo mais forte que quando pensamos em satisfação e qualidade de vida ele se revela muito nítido em nosso íntimo. Aquele pensamento que mexe com nosso respirar, nosso organismo e possui uma força de nos colocar em estado de hipnose momentâneamente. Tudo isso porque os "sonhos" são vida! Uma vida dentro de nós! Fez sentido a analogia com o feto?
Realmente não é fácil quando nos deparamos com situações que parecem não depender somente da gente a realização e conquista de nossos sonhos. Nos sentimos incapazes, frágeis, pequenos e sozinhos diante obstáculos externos, como falta de dinheiro, falta de tempo, problemas na família, falta de amigos incentivadores e outros tantos que puxam nossa autoestima para baixo - Qual é EXATAMENTE a sua prioridade? E aí,  chegamos a questionar o porquê sonhar se a realidade é tão dura. Começa então, o processo do aborto. Começamos a ter a convicção que já não somos mais capazes de carregar ou alimentar nossos sonhos. Inicia-se uma "falsa certeza" - que foi alimentada pelas verdades que condicionamos pois nosso cérebro não distingue o real do imaginário - que nossos sonhos são impossíveis.  Logo, procuramos conforto na idéia de apenas se satisfazer com alguns poucos segundos de deslumbre dos sonhos e a cada dia nos afastarmos de sua conquista e realização. Tudo para podermos ter a consciência tranquila de que, a realização de nossos sonhos  não depende somente de nós, pois se dependesse, conquistaríamos - De zero a dez, o quanto temos feito o que depende somente de nós para que isso ocorra? E como se não bastasse, ainda continuamos o pensamento e concluímos que, como depende de outras questões que não podemos interferir, não há o que fazer. Podemos resumir com simples frases já populares: "Caia na real! Acorda, Alice! Poliana... Aterriza!" Não é assim que funciona?
Ora, o que estamos dizendo é que a responsabilidade da condução de nossas próprias vidas não é somente nossa. Uma parte é, a outra não. Então podemos concluir que vivemos uma vida pela metade. É possível isso? Se a Lei da Ação e Reação já foi comprovada pela ciência, pela lógica, tudo o que vier até nós, será pela metade. Não é? Será que faz sentido eu dizer que, para nos sentirmos inteiros precisamos desenvolver mais o autoconhecimento e reafirmação de nossas próprias forças, habilidades e valores? E que se faz preciso assumir que sempre esperamos obter o reconhecimento dos mesmos pelo próximo, e muitas vezes isso é em vão e por isso é vital mudarmos nossas ações para obtermos melhores "reações" da vida?
Não procuro entrar em méritos de julgamento, entretanto, convido a refletir sobre o "autoaborto". Sobre o quanto temos interrompido o nosso próprio viver. Te convido a realizar uma lista de seus pontos fortes, de tudo o que você, e talvez, somente você sabe que é parte de seu "EU" de forma natural ou adquirida. Relacionar em uma folha de papel em branco sua digital, suas característas, suas marcas, suas alegrias e suas dores. Pode parecer um exercício, inicialmente, tolo. Mas ao escrever sobre isso, materializamos nossos pensamentos sobre quem REALMENTE somos. Podemos assim, compreender e enxergar melhor a dor e a alegria de ser quem somos e com isso, podermos assumir a condução de nossas vidas, vivenciarmos a sensação de viver de forma plena e integral e começar a colecionar conquistas.
Como canta Maria Bethania: "Sonhar mais um sonho impossível. Lutar quando é fácil ceder. Vencer o inimigo invencível. Negar quando a regra é vender. Sofrer a tortura implacável, romper a incabível prisão. Voar num limite improvável. Tocar o inacessível chão. É minha lei, é minha questão. Virar este mundo, cravar este chão. Não me importa saber se é terrível demais. Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz? E amanhã se este chão que eu beijei for meu leito e perdão, vou saber que valeu delirar e morrer de paixão. E assim, seja lá como for, vai ter fim a infinita aflição. E o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão!". Pense nisso, e seja também um(a) colecionador(a) de conquistas que poderá interferir na conquistas de outros, como eu estou fazendo. (Poderia não fazer se tivesse sido abortado ou abortado meus sonhos!)
Fotomontagem realizada em homenagem à minha mãe Helena Souza Mattos (01/01/1919 - 25/04/2008) quando completou um ano após seu falecimento. Atualmente faz 04 anos que ela partiu, mas sua presença é muito forte dentro de mim.
 À propósito, àqueles que desejarem refletir mais sobre aborto fetal, convido a assistirem alguns vídeos:

  • Fim do Silêncio
    Cenas do documentário "Fim do Silêncio" de Thereza Jessouroun, ganhador do primeiro edital para fomento pelo selo Fiocruz Video. Breve distribuido pelo Selo Fiocruz Video.

  • O Aborto dos outros
    Documentário "O Aborto dos Outros" (Nacional) no canal cinema do site Capital News.
    Dirigido por: Carla Gallo e produzido por: Moema Muller.

  • As lágrimas de um anjo  - Aborto (Atenção: Contém cenas de forte impacto emocional)
    Um vídeo emocionante, que retrata com cenas reais o aborto.


  • Depoimento  - Luciana Pitta (Eu diria o mesmo que ela - Não contive minhas lágrimas ao me identificar com as palavras ditas. )
    Vídeo depoimento sobre adoção
    produzido e exibido ao final do capitulo 43 da novela "Páginas da Vida", no dia 28/08/2006 pela Rede Globo.
 



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